ATA DA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 23-03-2000.

 


Aos vinte e três dias do mês de março do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e trinta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao Cantor e Instrumentista Heber Frós - Gaúcho da Fronteira, nos termos do Projeto de Resolução nº 29/99 (Processo nº 2133/99), de autoria do Vereador Gilberto Batista. Compuseram a Mesa: o Vereador João Motta, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Lupicínio Rodrigues Filho; o Coronel Antônio Carlos Maciel Rodrigues, representante da Justiça Militar do Estado; o Major Manoelito Sávaris, representante do Comando Geral da Brigada Militar; o Senhor Heber Frós, Homenageado; o Vereador Gilberto Batista, na ocasião, Secretário "ad hoc". Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Gilberto Batista, em nome das Bancadas do PTB, PDT, PPB, PSDB, PMDB, PPS e PT, discorreu sobre aspectos atinentes à vida pessoal e profissional do Senhor Heber Frós - Gaúcho da Fronteira, historiando a trajetória do Homenageado no cenário artístico gaúcho e destacando a relevância e a qualidade das obras musicais produzidas por Sua Senhoria. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença do Deputado Estadual Frederico Antunes, representante da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, convidando Sua Excelência a integrar a Mesa dos trabalhos. Também, foram registradas as presenças do ex-Deputado Estadual Bruno Neher, da Senhora Eloi da Costa Frós, esposa do Homenageado, do Senhor Heber Tiaraju, filho do Homenageado, e dos Senhores Diego e Maycon, sobrinhos do Homenageado. Após, foram apresentadas as músicas "Coração do Gaúcho", interpretada pelo Senhor João de Almeida Neto, e "Herdeiro da Pampa Pobre" e "Forroneirão", interpretadas pelo Senhor Heber Frós - Gaúcho da Fronteira. A seguir, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, ressaltou a justeza da homenagem hoje prestada ao Senhor Heber Frós - Gaúcho da Fronteira, saudando o Vereador Gilberto Batista pela proposição da presente solenidade e comentando a importância da contribuição prestada pelo Homenageado ao desenvolvimento musical do Rio Grande do Sul. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença de integrantes dos seguintes Centros de Tradições Gaúchas: Laço da Amizade, Chilena de Prata, Trinta e Cinco, Pitoco, Clube Sogipa, Os Milongueiros, Gildo de Freitas, Gaudérios do Sul, Candeeiros do Sul, Roda de Chimarrão, Farrapos, Estância da Azenha, Gomes Jardim, Tiaraju, Mate Amargo, Xiru das Leis, Aldeia dos Anjos e Armada Grande. Também, foram registradas as presenças dos Senhores Aírton Pimentel, João de Almeida Neto, Sinval Jardim, Luizinho, Luiz Carlos Borges e Vinícius Brum. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou o Vereador Gilberto Batista a proceder à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao Senhor Heber Frós - Gaúcho da Fronteira, e, após, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Prêmio recebido e convidou a todos para jantar a ser oferecido no Galpão da Estância da Azenha. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e quarenta e dois minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Motta e secretariados pelo Vereador Gilberto Batista, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Gilberto Batista, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Motta): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao Cantor e Instrumentista Heber Frós - Gaúcho da Fronteira.

Convidamos, para compor a Mesa, o homenageado Sr. Heber Frós; Sr. Lupicínio Rodrigues Filho; Cel. Antônio Carlos Maciel Rodrigues, representante da Justiça Militar do Estado; Major Manoelito Sávaris, representante do Comando-Geral da Brigada Militar.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Gilberto Batista, da Bancada do PTB, está com a palavra e falará como proponente desta homenagem e em nome do PDT; PPB, PSDB, PMDB, PPS e PT.

 

O SR. GILBERTO BATISTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Todas as pessoas vêm ao mundo com uma missão, mesmo que não saibamos, Gaúcho, qual é essa missão ou mesmo que tenhamos passado por esta vida sem o saber, mas estamos aqui com um objetivo. A pessoa, senhoras e senhores, sobre a qual vou falar neste momento, o nosso homenageado, é diferente, para não dizer que ele é especial. Foi um menino dos pampas, ama esta terra como ninguém, nasceu na Cidade de Santana do Livramento, divisa com o país vizinho, o Uruguai. Quando eu resolvi, Gaúcho, por milhares de motivos, propor a esta Casa que te concedesse o maior e mais respeitado prêmio da música da nossa Cidade, tive que pesquisar o teu verdadeiro nome, inclusive o nosso Comandante, aqui, te chama de Artigas.

Heber Frós. Este foi o nome escolhido por seus pais, mas o que ele escolheu, na realidade, foi Gaúcho da Fronteira. Que dádiva teve este homem de poder escolher como quis ser chamado, e é maior ainda a nossa dádiva de tê-lo como nosso Gaúcho.

Ele é pai de dois filhos, o Heber e o Cleber; sua esposa Eloi, está ali. O Gaúcho já tem um netinho para deixar o seu legado. Há poucos instantes, comentei que inúmeros motivos me levaram a prestar, de forma singela, uma homenagem a esta figura ilustre. Eu cresci ouvindo as suas composições, dançando suas melodias pelos bailes dos CTGs. Nos domingos, no tradicional churrasco na minha casa, suas músicas sempre me deram um novo ânimo para começar mais uma semana de vida. O fato mais curioso ocorreu quando descobri que meu ídolo, aquele que só via na capa dos discos de vinil ou na televisão, era meu vizinho. Eu não tenho a honra de dividir o muro contigo, gostaria de ser o teu vizinho, mas sinto um grande orgulho por morares no mesmo bairro onde morro, que é o Bairro Sarandi.

Aproveito este tempo que me é concedido para contar a vocês, e muitos já conhecem, um pouco da vida do Gaúcho da Fronteira.

Aos sete anos ele já ensaiava os seus primeiros passos no teclado de uma gaita de botão. Depois de participar de espetáculos em vários clubes, em CTGs de Livramento e em cidades vizinhas, ingressou no conjunto Os Vaqueanos, com quem viajou por quase todo o País, inclusive estávamos comentando isso na Presidência desta nobre Casa. Em 1968, gravou o seu primeiro compacto duplo com o grupo em Montevidéu; em 1969, um LP em São Paulo, chamado Canção do Carreteiro; em 1975, gravou o seu primeiro LP sozinho, em São Paulo, pela gravadora Copacabana, intitulado Gaúcho da Fronteira, consolidando assim o apelido que, há muito, já substituía o seu próprio nome. Três anos depois, vencido o contrato, tentou a sorte com uma gravadora de Porto Alegre, fazendo o seu segundo longa duração intitulado Mensagem do Sul, com duas faixas: o vaneirão O Dedo e o Xote e Praia Gaúcha , que obtiveram grande repercussão - deves lembrar disso. Em fins de 79, o Gaúcho da Fronteira decidiu residir definitivamente na nossa Cidade, abandonando a fronteira, entre aspas, porque nunca deixou de abandoná-la, numa tentativa de fortalecer a sua carreira artística. O sucesso do disco anterior levou a gravadora a convidá-lo para gravar o seu terceiro LP, com o título Meu Rastro. A música, conhecida até hoje, o vaneirão Nhecovari Nhecofum - é isso, estou correto? - deu grande sucesso ao seu trabalho. No início de 1981, Gaúcho voltou a São Paulo, desta vez para gravar Isto que é Gaiteiro Bom. O quinto LP, intitulado Gaita Companheira, onde se destacam as músicas Sonhando com Ela e Churrasco lá em Casa, teve um ótimo retorno do público.

Heber Frós, construiu sua carreira preocupando-se sempre em renovar e buscar novos caminhos, tanto que, apesar de ser considerado um artista de música regional, a mistura de ritmos sempre foi sua marca pessoal. Quem não dançou, aqui - eu pergunto - quem não lembra do Vaneirão Sambado? Após ter lançado dezoito discos, ele lançou o Forroneirão ao Vivo, que consolidou seu sucesso por todo o País e marcou o seu nome como o grande responsável por levar as nossas tradições, do Estado do Rio Grande do Sul, a nossa cultura, para o povo do Nordeste e para os baianos.

Eu poderia, meus amigos, minhas amigas, Ver. Reginaldo Pujol, meu ex-Deputado Bruno Neher, enfim, todos que aqui estão presentes, ter muito assunto, para ficar a noite inteira contando a história dessa figura ímpar, mas limito-me, já que a bancada deve ficar um pouquinho para ti, para te manifestares sobre as tuas andanças, as tuas emoções.

Só aproveito, aqui, Gaúcho, diante de um poeta, que és tu, para arriscar algumas palavras, que penso serem bonitas: com muita humildade e do fundo do meu coração emocionado quero-te agradecer por tua força, pelo teu caráter, tua mente brilhante e criativa, tua música, a alegria que transmites para nós, e te dizer que me sinto demasiadamente honrado em, primeiro te ter conhecido, e, depois, neste momento tão importante para a minha carreira política, te homenagear.

E quero dizer muito obrigado por estares aqui, nesta noite, comigo, com teus amigos Vereadores. Que Deus te abençoe! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Esta Presidência tem a honra de convidar, para fazer parte da Mesa, o representante da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, Deputado Frederico Antunes.

Registramos a presença do ex-Deputado Estadual Bruno Neher e também da esposa do homenageado, Sr.ª Eloi da Costa Frós; do filho do homenageado, Heber Tiaraju; do neto do homenageado João Heber, e dos sobrinhos Diego e Maycon.

Como estamos homenageando um dos nossos principais talentos, como músico e instrumentista, está previsto, no cerimonial, que o nosso homenageado nos brindará com a sua criatividade musical.

 

O SR. HEBER FRÓS: Eu gostaria de convidar o companheiro João de Almeida Neto para fazermos com que esta grande Casa de Porto Alegre seja uma mistura de casa de trabalho dos Vereadores e um palco da vida, porque nesta ocasião, com este prêmio, que tem o nome do saudoso Lupi, que representa tanto para a nossa cultura, para a nossa formação, não poderia ficar longe o toque de uma acordeona e uma cantiga, principalmente desses índios de bombacha aqui do Rio Grande.

 

(É executada a música Coração do Gaúcho por João de Almeida Neto e são executadas as músicas Herdeiro da Pampa Pobre e Forroneirão por Heber Frós.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra e fala em nome da Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente, eu ia pedir um aparte ao Gaúcho para dar uma palhinha, que não seria musical, mas que seria a mensagem do meu Partido, Partido da Frente Liberal, que se associa por inteiro a essa homenagem, inteligentemente proposta pelo meu prezado companheiro de coração, Ver. Gilberto Batista, que saiu do meu Partido, mas não saiu do meu coração, continua com lugar garantido nele.

Apesar dos arranhões, isso nem é um arranhão é um faconaço que demos no protocolo, ainda tenho, Gaúcho, que seguir um pouco o protocolo, saudando o Presidente da Casa, Ver. João Motta; o nosso querido amigo Lupicínio Rodrigues Filho, cujo pai é o patrono da homenagem que hoje nós lhe prestamos; ao representante da Justiça Militar do Estado, meu particular amigo Coronel Antônio Carlos Maciel Rodrigues; ao representante do Comando-Geral da Brigada Militar do Estado, Major Manoelito Sávaris; e ao representante do Poder Legislativo do Rio Grande do Sul, este jovem, competente, dinâmico e inteligente Deputado que Uruguaiana contribuiu para o Rio Grande do Sul, meu querido amigo Dep. Frederico Antunes.

Aliás, Gaúcho, quem fala neste momento, representando o PFL, é um guasca de Quaraí. Eu, quando ouvi esta revelação importante, que tu deixaste o umbigo lá pela Santana do Livramento, disse que a coisa estava começando a pegar jeito. Depois, com a chegada do Dep. Frederico Antunes, que é representante de Uruguaiana, eu percebi que os dois bairros avançados de Quaraí estavam representados nesta Sessão, Santana do Livramento e Uruguaiana. Aliás, eu quero confessar a todos, tranqüilamente, que nós temos uma pretensão que um dia ainda vamos realizar: Quaraí ainda vai ser a Capital do Rio Grande.

Nós estamos, pouco a pouco, iniciando a nossa caminhada: primeiro, bati com os ombros por aqui com extrema boa vontade desse povo aí, alguns anos aqui na Câmara de Vereadores, tremendo para ser um dia vereador em Quaraí, porque o importante mesmo é que lá vai ser a capital da pampa.

No nosso plano expansionista, o Gaúcho da Fronteira tem uma missão muito importante. É que nós pegamos desse nosso bairro, aquele vizinho de Rivera, e eu disse: “Tchê, tu vais lá para Porto Alegre e vai ensinando esse pessoal a tocar gaita, a compreender a música do Rio Grande, que isso é o teu comprometimento na jornada”. E agora, mais recentemente, colocamos um deputado na Assembléia Legislativa, o Dep. Antunes, que vai ser o nosso porta-voz naquele Parlamento amigo, que vai dividir com Quaraí a responsabilidade de formar o Estado. Mas fiquem todos tranqüilos que nós não vamos separar Quaraí, Livramento, Uruguaiana do restante do Rio Grande, mas vamos ser um Estado federado, intimamente vinculado com o nosso querido Rio Grande e o nosso querido Brasil.

Mas essa forma pouco convencional, entendo que me integro ao espírito dessa nossa reunião festiva, é uma reunião mais do que solene, é festiva porque diz respeito as coisas que sentimos, as coisas do coração. Nós estamos outorgando um prêmio que tem como patrono o maior músico, o maior poeta deste Estado, que foi Lupicínio Rodrigues, entregando para alguém que representa as raízes da gente do Rio Grande.

Perdoem-me os serranos, mas nós da fronteira temos a pretensão de dizer que somos mais gaúchos do que qualquer gaúcho, porque, afinal de contas, se dizia em Quaraí que nós éramos brasileiros não por uma imposição geográfica, mas por uma opção histórica, porque havíamo-nos determinado que não seríamos castelhanos, seríamos brasileiros porque tudo nos impelia até de sermos castelhanos, até algumas determinações geográficas, a própria continuação da pampa.

Eu ouvi bem que o primeiro disco que o Gaúcho gravou foi em Montevidéu e não me surpreendi. O primeiro sapato que calcei foi comprado em Montevidéu, porque era mais fácil fazer-se compras na capital uruguaia do que chegar a Cidade de Porto Alegre porque naquela época, Gaúcho, o trem parava ali por Cacequi, pelo menos em Quaraí ele não chegava; depois foi chegando em Severiano Ribeiro, até chegar em Quaraí e de certa forma, nos integrou com a sua civilização brasileira, já que tínhamos todas as facilidades de nos vincularmos com o Uruguai, Montevidéu, que já era uma cidade muito desenvolvida naquela época.

Mas nós, que nascemos na fronteira, sabemos muito bem qual é a importância que tem para o gaúcho a música e a poesia. Nós falamos muito mais cantando e transmitindo os nossos sentimentos, através de um acordeon, de uma gaita ponto, do que, propriamente, em grandes e eloqüentes discursos.

Por isso, eu cometo uma certa ousadia Airto, de estar falando no meio de gente que faz a música do Rio Grande, e o faz com qualidade, como o Bruno, como os Três Xirus e outros baluartes da música do Rio Grande, alguns dos quais, penso que estão aqui presentes, como o Luizinho, o Vinícius, o Luís Carlos Borges, e por que não, quem já nos brindou com uma apresentação singular, o João de Almeida Neto, a quem eu presto uma homenagem a todos aqueles intérpretes da música do Rio Grande. A todos vocês, quero acentuar um fato: diz que nada como mantermos os vínculos telúricos com as nossas raízes.

Eu tenho a impressão de que nas minhas convicções políticas, Gaúcho, e vejo que isto tem de muito comum contigo, esse gosto pela liberdade, eu penso que adquiri lá naquelas planícies amplas, que caracterizam a nossa região.

Eu me lembro que era guri e ouvia dizer: “Olha, tchê, cadeira foi feita para os homens”. Eu prefiro viver morto se perder a minha liberdade. Era até um pleonasmo, como é que alguém pode viver morto? Era uma opção que, no discurso do pampa, se falava. Quando eu vejo tu fazeres poesia da tua música, poesia ao nosso gosto, quando eu vejo tu convocares a brasilidade para vir fazer um carnaval do gaúcho, que é o nosso vanerão, eu fico imaginando, Presidente João Motta, se um dia, nós não poderíamos apresentar e deixar perplexo o Brasil todo, quando, em pleno carnaval, ao invés de fazer um baile à fantasia, fizéssemos um fandango caracterizado. Isto é, todos os CTGs, todos os gaúchos ao invés de dançar o samba, e não tenho nada contra o samba, sou patrono de uma escola de samba na Cidade de Porto Alegre, o Estado Maior da Restinga, a qual fui um dos fundadores, e tenho muito orgulho disso. Mas sentir-me-ia muito à vontade, no carnaval, ao colocar uma bombacha, um lenço no pescoço, botar uma guaiaca, de preferência com alguns pilas dentro, e sair em direção a um ponto qualquer para sermos gaúchos, inclusive no carnaval, autenticamente gaúchos.

E é por isso, Gilberto, que tu foste feliz. Conseguimos, com o tempo, modificar até os conceitos, que pelo Brasil afora, até mesmo os gaúchos falavam, dizendo que culturalmente a tradição do Rio Grande do Sul era um culto a grossura. O gaúcho tinha que falar enviesado, meio acastelhanado, porque só assim faríamos a afirmação.

Gaúcho da Fronteira, e fico feliz em saber que esse jovem e dinâmico vereador teve essa sensibilidade, provavelmente seja o espírito do Sarandi, coisa de bairro, que se identificaram, e ele teve essa iniciativa tão feliz, de oferecer a ti - com o apoio de todos os Vereadores desta Casa - o maior prêmio que um gaúcho, que um porto-alegrense, alguém que moureja aqui nos pampas pode receber, o Prêmio Lupicínio Rodrigues. Falar de Lupicínio Rodrigues seria inverter todo o rumo da prosa, porque ele é a própria poesia e a própria música do Rio Grande do Sul.

De coração, meu irmão, que bom que tu está aqui conosco, que bom que houve inspiração no Legislativo da Capital para dizer: quem canta o Rio Grande precisa ser reconhecido por Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Registramos a presença de alguns CTGs, de alguns cantores, instrumentistas e compositores que também nos honram com suas presenças, aqui na Câmara Municipal de Porto Alegre, nesta Sessão. São os CTGs Laço da Amizade, Chilena de Prata, Trinta e Cinco, Pitoco, Clube Sogipa, Os Milongueiros, CTG Gildo de Freitas, Gaudérios do Sul, Candeeiros do Sul, Roda de Chimarrão, Farrapos, Estância da Azenha, Gomes Jardim, Tiaraju, Mate Amargo, Xiru das Leis, Aldeia dos Anjos e Armada Grande. E também a presença dos grandes talentos da nossa música: Aírton Pimentel, João de Almeida Neto, Sinval Jardim, Bruno Neri, Luiz Carlos Borges e o meu querido amigo Vinícius Brum, além do Luizinho que já deu uma palhinha com o nosso homenageado.

Convido o Vereador autor da proposição, Gilberto Batista, para que proceda a entrega do Prêmio ao homenageado.

Que esse ato simbolize todo o respeito e consideração que esta Casa tem para com esse grande cidadão e grande talento da música gaúcha.

 

(Procede-se à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues ao homenageado.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Sr. Heber Frós está com a palavra.

 

O SR. HEBER FRÓS: Eu acho que, faz de conta, que aquela hora que a gente vai para o palco, o Bruno sabe, o Borges, o João e que a gente junta as mãos, aquela força maior para que ajude a gente a conquistar o coração, o sorriso, o abraço, as palmas, o aplauso das pessoas. Isso tudo tem nos ajudado, porque a gente tem fé em Deus, no trabalho que a gente faz, no que a gente se propõe.

Depois disso, pegando a boca do corredor, o Coronel, quando era Tenente, lembro-me que uma vez eu fiquei no quartel, no Alegrete, posei lá: “Vem para cá, guri. Fique por ali.” O Comandante era do 2º Regimento de Livramento, saudoso Pelego, que era chamado, Orlando Menezes da Silveira. E por aí segue. Aí pegando o corredor, fomos conhecendo outras pessoas, fazendo mais amizades. Lá pelas tantas, me falava o Coronel Maciel, viemos a Porto Alegre cantar no Ginásio da Brigada. Junto com a gente estava o companheiro Odair de Freitas, o Nelson Cardoso, o Luiz Cardoso, que está comigo, lá em casa, hoje. Enfim, muitos companheiros. E a gente veio cantar a primeira vez em Porto Alegre. Lá pelas tantas encontramos um índio de Uruguaiana, Alegrete, que já não está mais com a gente aí, mas que deixou um trabalho maravilhoso, o saudoso Darcy Fagundes - hoje estão... o Nico, o Bagre, os irmãos, cultivando essa tradição -, e esse amigo nos deu o primeiro apoio, assim como eu falei do saudoso Luiz Gonzaga. Depois tivemos um outro parceiro, Glauco Saraiva, que também não está mais entre a gente, mas que deu a mão, nos deu apoio, nos dizendo: “Continua, que está bonito esse trabalho. É lindo! É gratificante!” Mais adiante, Dimas Costa. Lá pelas tantas, Jaime Caetano Braum, e por aí se segue. Essa é a vida. A mão de um amigo; a mão de outro amigo; um verso daqui; uma poesia de lá, e fomo-nos criando, nos esparramando como porco nas batatas, fomos ganhando um espaço maior.

Até que, de repente, praticamente conquistamos o País com uma música simples, um toque de cordeona, uma cantiga. E levamos a música do Rio Grande, o toque, a cantiga, a imagem sempre com bons comportamentos, com jeito de gente grande. Hoje fazemos parte do cenário nacional. Somos queridos, respeitados por todos os amigos e por todos os fãs do nosso trabalho.

E estamos recebendo esta homenagem desta Casa por essa pessoa que deu a vida na poesia, na cantiga, o saudoso Lupi, hoje representado pelo Guri, que também já deve ter mais ou menos a minha idade. Isso é gratificante para nós, faz com que, de repente, a barba vá branqueando, os anos vão passando, mas conseguimos colher, nessa lavoura bonita, conseguimos colher o carinho, o respeito e a admiração das pessoas.

E só temos a agradecer ao Presidente desta Casa, o Ver. João Motta, ao Lupi Filho, ao meu particular amigo, Antônio Carlos Maciel, o Porquinho, como chamamos intimamente, meu irmão. Hoje, o Frederico Antunes, esse gurizote que representa. muito para a fronteira, como disse o companheiro Pujol, para toda a nossa região. Representante do Comando-Geral da nossa querida Brigada Militar, nosso querido Manoelito, ao qual agradecemos a presença.

A primeira vez que vim a Porto Alegre foi em uma camionete Dodge com o Comandante do 2º Regimento para cantar no Ginásio da Brigada Militar, ali na Av. Ipiranga. Os anos passam e a batalha continua, porque continuamos levando, como diz o compadre Luiz Carlos Borges, “levando e trazendo” esse toque de acordiona.

Nos próximos dias, vamos viajar aos Estados Unidos com esse grande parceiro das Missões, Luiz Carlos Borges, de gaita, violão e peito aberto. Penso que os gringos, às vezes, têm vontade de nos xingar, mas a acordiona, a ginga, o violão começam a mexer com o sangue, com o coração, aí, fica bonito, é gratificante, é a mensagem que transmitimos através do toque, da cantiga.

Tantas e tantas amizades, tantas e tantas coisas buenas que nos proporcionam, através desse instrumento, que o Luizinho hoje me amadrinhou de cordiona.

Quero agradecer ao Gilberto Batista, representante do meu bairro, da minha vila, agradecer a cada um de vocês: a Eloi, o Tiaraju, o Cleber, que não se encontra, mas lembro no programa do Darcy, ele dizia: “Olha esse guri, incomodando e fazendo barulho”. A história se repete, a vida continua, que bom que podemos ter amigos como todos vocês, dos CTGs, da sociedade, de músicos, parceiros de versos, dos buenos. Quero agradecer o carinho, esse abraço que a gente sente e agora com esse toque novo do Dr. Luchese, que me diz: “Olha, já rodou cinqüenta mil. Agora, motor turbinado, novo, coração zero, importado, de metal. “Coração novo e a carinha de guri; tô igual a carro novo, assanhado pra sair.”

Então, faz com que de repente se cruze por todos esses caminhos, por todas essas andanças; chorando, sentindo saudade, sentindo frio, sentindo calor. E por falar em calor, quando estivemos no Norte e no Nordeste, ficamos meio abobados com o calorão de lá. E no ano passado, quando estive na Finlândia, na terra onde nasceu o Papai Noel, o dia era desse tamanho e a noite deste tamanhão! Eu fiquei mais perdido do que sapo em cancha de bocha. Eu falava aos guris que nos acompanhavam que era gratificante, pois eu chegava num rodeio de gente, que se encontrava na praça, para falar com eles, e perguntavam como eu ia fazer para falar com eles, eles respondiam: “Não sei. Te vira”. Eu chegava com cartaz - aquilo foi verídico, não foi só para fazer o comercial -, eu chegava e eles me perguntavam em finlandês: “Você toca gaita?” Tudo isso se conquista através do olho, através da palavra, do abraço.

Eu só tenho a agradecer a todos e a minha querida Brígida e o velho Conceição, que estão em Santana do Livramento.

E um verso, que eu arremato e deixo para os amigos, que diz assim:

“Cantando hei de morrer; / Cantando haverão de me enterrar; / E cantando hei de chegar ao pé do eterno Pai, / Desde o ventre da minha mãe / Vim neste mundo a cantar.” Muito obrigado!

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Este momento grandioso é de muita alegria e emoção para todos nós graças à criatividade e iniciativa do Ver. Gilberto Batista, a quem esta Mesa também rende as suas homenagens.

 

O SR. HEBER FRÓS: Gostaria de convidar os amigos para dar uma salgada na conversa no Galpão da Estância da Azenha, aqui atrás da Casa, para, quem sabe, atirarmos uma costela pelo peito, costela com mandioca, uma comida bem campeira. Estão todos convidados.

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a presença de todos. Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h42min.)

 

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